Transposição | Consórcios não comprovam suspensão e MPT entra com ação na justiça

O Ministério Público do Trabalho (MPT) ingressou com ação civil pública contra os Consórcios Bacia do São Francisco e São Francisco Leste, responsáveis pelas obras da Transposição do Rio São Francisco no eixo leste. O objetivo do órgão é que a justiça obrigue as empresas a suspender imediatamente as atividades no túnel Monteiro e o transporte de trabalhadores pela atual fornecedora, diante do grave e urgente risco de acidentes.

Atividade no Túnel Monteiro coloca em risco a vida de trabalhadores
Atividade no Túnel Monteiro coloca em risco a vida de trabalhadores

A ação é fruto de ação fiscalizatória promovida no período de 12 a 16 de dezembro passado. Os pedidos – liminares e definitivos - foram protocolizados na noite desta segunda-feira (19) na vara do Trabalho de Pesqueira.


De acordo com o procurador Ulisses de Carvalho, que coordenou a força-tarefa, a ação foi necessária porque os consórcios não comprovaram a suspensão imediata das atividades, conforme solicitava recomendação emitida pelo MPT na manhã da quinta-feira (15) aos grupos empresariais. O documento foi recebido pelas empresas no mesmo dia.


O MPT ainda intimou nos dias 16 e 18, por e-mail, os representantes da empresa S.A. Paulista para que apresentassem informações sobre as providências adotadas. Houve resposta da diretoria, no entanto nela não constava a comprovação dos itens pedidos na recomendação.


Na ação civil pública, o órgão ainda pede a fixação de multa não inferior a R$ 100 mil por obrigação descumprida. Além dos Consórcios Bacia do São Francisco e São Francisco Leste, são réus na ação a S.A. Paulista de Construções e Comércio, a FBS Construção Civil e Pavimentação Ltda. e Somague Engenharia S.A do Brasil.

 

Dano moral coletivo

O MPT ainda pediu na ação que as rés sejam condenadas ao pagamento de dano moral coletivo em valor não inferior a R$ 5 milhões. O pedido leva em conta as irregularidades e lesões já encontradas, bem como o porte financeiro das empresas.


Todas elas juntas somam capital social de mais de R$ 212 milhões. Somente o Consórcio Bacia do São Francisco tem contrato inicial com o Ministério da Integração Nacional no valor de R$ 705.199.999,81 para execução das obras no trecho leste. Os consórcios empregavam 1.481 trabalhadores, segundo informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) de novembro deste ano.

 

Entenda o caso


A força-tarefa do MPT ocorreu do dia 12 a 16 de dezembro, sendo as fiscalizações em 13 e 14. Nelas, foram constatadas graves irregularidades, que colocam em risco a integridade física e a vida dos trabalhadores que atuam no Túnel Monteiro e nos que são transportados nos veículos fornecidos pela empresa RR Transportes Ltda (Águia Turismo).


Segundo os analistas periciais em saúde e segurança do trabalho do MPT, a grande maioria dos ônibus apresenta condições de risco. São elas: ausência de cintos de segurança; inexistência de discos do tacógrafo ou quebrados; extintores de incêndio com prazo de recarga vencida; falta de documentos dos veículos e de carteira de habilitação do condutor; pneus em condições inadequadas (pneu careca); faróis e lanternas queimados.


“Além de um quantitativo imenso de trabalhadores tendo as vidas colocadas em risco de acidente com a utilização desses veículos, está também em perigo toda a sociedade, pois os veículos trafegam pelas rodovias e não somente pelos canteiros da obra, como pode se pensar”, disseram Ulisses e Lívia Arruda, procuradora que também esteve na ação.


 Já no Túnel do Monteiro, localizado na divisa entre os Estados de Pernambuco e Paraíba, foram encontrados empregados em situação extremamente indigna. Cerca de 20 empregados, que faziam o jateamento de concreto, limpeza e construção de piso, foram encontrados em ambiente com calor excessivo, inexistência de ventilação adequada.


“Esses trabalhadores manuseavam produtos químicos (cimento e aditivos) e se encontravam sem equipamentos de proteção individual adequados aos riscos a que estão submetidos, circunstância que lhes causavam relevantes dermatoses de contato”, relataram os procuradores. Também foi vista existência de risco de choque elétrico e curtos circuitos nas instalações elétricas e a inexistência de treinamento específico para desempenho de atividades em espaços confinados.

Grupo de trabalhadores apresentava feridas por conta com produtos químicos
Grupo de trabalhadores apresentava feridas por conta com produtos químicos

 

Transposição


A integração do São Francisco abrange a construção de nove estações de bombeamento, 27 reservatórios, quatro túneis, 13 aquedutos, nove subestações de 230 kV e 270 quilômetros de linhas de transmissão em alta tensão. Ao todo, 390 municípios serão beneficiados com o projeto. Eles estão situados nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. No eixo norte, são 260 quilômetros de canal, dos quais 90,7% já foram executados. Já no leste, 217, sendo 88,7% prontos.

 

Processo 0001780-70.2016.5.06.0341

Créditos das fotos: Mariana Banja/ Ministério Público do Trabalho

Tags: ação civil pública, liminar, transposição